O MUNDO É PLANO

DICASGRANA

quarta-feira, 25 de junho de 2008


O MUNDO É PLANO
THOMAS L. FRIEDMAN
BOOM DA INTERNET
INVESTIDORES COMEÇARAM A OLHAR PARA ESSA GRANDE REDE E CHEGARAM À CONCLUSÃO DE QUE TUDO : DADOS, ESTOQUES, COMÉRCIO, LIVROS, MÚSICA, FOTOS, ENTRETENIMENTO, SERIA DIGITALIZADO, TRANSPORTADO PARA INTERNET E LÁ COMERCIALIZADO; A DEMANDA POR PRODUTOS E SEVIÇOS BASEADOS NA INTERNET SERIA, POIS, INFINITA. TAL RACIOCÍNIO LEVOU À BOLHA DAS AÇÕES PONTO.COM E À ENXURRADA DE INVESTIMENTOS NA REDE DE CABOS DE FIBRA ÓPTICA NECESSÁRIA PARA A TRANSMISSÃO DE TODAS AS NOVAS INFORMAÇÕES DIGITAIS, O QUE, POR SUA VEZ, INTERLIGOU O MUNDO INTEIRO.
HOJE NEM PRESTAMOS ATENÇÃO À TECNOLOGIA DE NAVEGAÇÃO NA WEB, MAS NA VERDADE ESSA FOI UMA DAS MAIS IMPORTANTES INVENÇÕES DA HISTÓRIA MODERNA.
A MUDANÇA DE HÁBITOS OCORRE MAIS RÁPIDO QUANDO TEM UM BOM MOTIVO PARA ACONTECER. E TODO MUNDO TEM UMA NECESSIDADE INATA DE SE RELACIONAR COM OS OUTROS. QUANDO SURGE UMA NOVA FORMA DE AS PESSOAS SE LIGAREM ENTRE SI, ELAS SUPERAM QUALQUER BARREIRA TÉCNICA, APRENDEM NOVAS LINGUAGENS. TEMOS UM DESEJO INERENTE DE NOS CONECTARMOS AO DEMAIS, NOS IRRITAMOS QUANDO NÃO CONSEGUIMOS.
BILL GATES COMPAROU A INTERNET À CORRIDA DO OURO, EM RELAÇÃO AO ASPECTO DE QUE SE FEZ MUITO MAIS DINHEIRO COM A VENDA DE CALÇAS JEANS, PICARETAS, PÁS E QUARTOS DE HOTEL PARA OS MINEIROS QUE COM O OURO ENCONTRADO PROPRIAMENTE DITO. E GATES TINHA RAZÃO: OS BOOMS E BOLHAS PODE SER PERIGOSOS PARA A ECONOMIA; PODEM TERMINAR COM MUITA GENTE PERDENDO DINHEIRO E VÁRIAS EMPRESAS INDO A FALÊNCIA; MAS TAMBÉM TENDEM A ACELERAR O RITMO DAS INOVAÇÕES, E BASTA O EXCESSO DE CAPACIDADE QUE ACARRETAM – SEJA EM TERMOS DE TRILHOS DE ESTRADA DE FERRO OU AUTOMÓVEIS NAS ESTRADAS DE RODAGEM – PARA GERAR EFEITOS COLATERAIS POSITIVOS, AINDA QUE NÃO PREMEDITADOS.
FOI ISSO QUE OCORREU COM O BOOM DAS AÇÕES DE INTERNET : PROVOCOU UM GIGANTESCO EXCESSO DE INVESTIMENTOS EM EMPRESAS DE CABOS TERRESTRES E SUBMARINOS DE FIBRA ÓPTICAS, ACARRETANDO UMA REDUÇÃO DRÁSTICA NO CUSTO DAS CHAMADAS TELEFÔNICAS OU TRANSMISSÃO DE DADOS PARA QUALQUER PARTE DO MUNDO.
O trabalho tem de ir para onde pode ser feito melhor.
Toda mudança é dura. Mas a mudança é algo que sempre aconteceu, e é indispensável.
Para haver inovação, precisa haver capitalismo. Bill Gates
Os vencedores serão aqueles que mais rápido aprenderem os novos hábitos, processos e competências.
Geração Z : Os zippies, são confiantes e criativos, transpiram atitudes, cheio de energia, ambição e aspiração, e querem desafios, amam o risco e ignoram o medo “eles se movem para o seu destino, não movidos por ele” . Olham para frente, não para dentro. EE querem crescer.
Graças a internet o mundo todo é um mercado só. Vai ser um tal de você me ensina isso que eu lhe ensino aquilo. Como nunca se viu antes – o que é ótimo para o mundo. A economia vai motivar a integração, que por sua vez vai motivar a economia.
Não parar nunca de se inventar e reinventar constantemente.
Há dezenas de pessoas fazendo a mesma coisa que a gente, e tentando fazer melhor. Basta fazer um site na web, ter um endereço e e-mail e pronto, estamos na estrada, quem conquista a confiança dos clientes, quem for diligente e claro na suas transações vai entrar no jogo.
Ser um pouco mais agressivos na maneira como vendemos o nosso peixe. (nosso produto)
Esta havendo uma mudança drástica na nossa maneira de trabalhar. Todos precisarão se aprimorar, terão que competir teremos um único mercado global. Cada qual pode criar uma oportunidade para si próprio e aferrar-se a ela. Criando novas oportunidades.

A derrocada das ponto.com (março 2001) alçou a globalização a novos patamares, na medida que obrigou as empresas a terceirizar e fazer offshoring (montar fabricas na china ou em outros países) de cada vez mais funções assim de economizar seu capital.
Há mudança a caminho da tecnologia e dos negócios, mudanças que entrara para a história como “ o meteoro que atingiu a terra e extinguiu os dinossauros”
A terra se achatou. Graças a tripla convergência, a concorrência e a colaboração global (entre indivíduos e indivíduos, empresas e indivíduos, empresas e empresas e empresas e clientes) agora estão mais baratas, mais fáceis, com menos atrito e mais produtiva para as pessoas de mais lugares do mundo que jamais antes na história deste planeta.
Os últimos 25 anos no campo da tecnologia, foram apenas a orquestra afinando os instrumentos; agora é que vamos assistir ao número principal – “uma era em que a tecnologia vai literalmente transformar o mundo empresarial, a vida e a sociedade em todos os aspectos”.
O modelo de criação é valor eminentemente vertical (baseado no comando de controle), até então predominante no mundo, começa a ser substituído por outro cada vez mais horizontal (de interconexão e colaboração).
O QUE ACONTECEU NOS ÚLTIMOS ANOS (A PARTIR DE 2000) FOI QUE HOUVE UM INVESTIMENTO MACIÇO EM TECNOLOGIA, SOBRETUDO NO PERÍODO DA BOLHA(MUITAS EMPRESAS NA INTERNET) , QUANDO CENTENA DE MILHÕES DE DÓLARES FORAM INVESTIDOS NA INSTALAÇÃO DE CONECTIVIDADE EM BANDA LARGA NO MUNDO INTEIRO, CABOS SUBMARINOS. PARALELAMENTE, ACRECENTOU, HOUVE O BARATEAMENTO DOS COMPUTADORES, QUE SE ESPALHAREAM PELO MUNDO TODO, E UMA EXPLOSÃO DE SOFTWARES , CORREIO ELETRÔNICO, MOTORES DE BUSCA COMO O GOOGLE E SOFTWARE PROPETÁRIOS CAPAZES DE RETALHAR QUALQUER OPERAÇÃO E MANDAR UM PEDAÇO PARA BOSTON, OUTRO PARA BANGALORE (ÍNDIA) E UM TERCEIRO PARA PEQUIM, FACILITANTO O DESENVOLVIMENTO REMOTO, ENGENDRARAM UMA PRATAFORMA COM BASE NA QUAL O TRABALHO E O CAPITAL INTELECTUAIS PODERIAM SER REALIZADOS DE QUALQUER PONTO DO GLOBO; TORNOU-SE POSSÍVEL FRAGMENTAR PROJETOS E TRANSMITIR, DISTRIBUIR, PRODUZIR E JUNTAR DE NOVO AS SUAS PEÇAS, PRINCIPALMENTO TRABALHO INTELECTUAL.(...) O QUE SE VÊ EM BANGALORE(ÍNDIA) HOJE, NÃO PASSA DO CLIMAX DESSE PROCESSO DE CONVERGÊNCIA.
“ESTAMOS APLAINANDO O TERRENO” PORQUE É SOB PRESSÃO QUE DAMOS O MELHOR DE NÓS. ( NANDAN NILEKANI – CEO DA INFOSYS TECHNOLOGIES LIMITED – EMPRESA INDIANA)
NOVO PARADIGMA: É INEGÁVEL QUE AGORA UM NÚMERO MAIOR DO QUE NUNCA DE PESSOAS TEM A POSSIBILIDADE DE COLOBARAR E COMPETIR EM TEMPO REAL COM UM NÚMERO MAIOR DE OUTRAS PESSOAS DE UM NÚMEROS MAIOR DE CANTOS DO GLOBO, NUM NÚMERO MAIOR DE DIFERENTE ÁREAS NUM PÉ DE IGUALDADE MAIOR DO QUE QUALQUER MOMENTO ANTERIOR DA HÍSTORIA DO MUNDO – GRAÇAS AOS COMPUTADORES, AO CORREIO ELTRÔNICO, ÀS REDES, À TECNOLOGIA DE TELECONFERÊNCIA E A NOVOS SOFTWARES, MAIS DINÂMICOS,
PODE PRECIPITAR UMA “ERA” NOTÁVEL DE PROSPERIDADE E INOVAÇÃO.
AGORA, O QUE OS INDIVÍDUOS PODEM E DEVEM INDAGAR É: COMO É QUE EU ME INSIRO NA CONCORRÊNCIA GLOBAL E NAS OPORTUNIDADES QUE SURGEM A CADA DIA E COMO É QUE EU POSSO, POR MINHA PRÓPRIA CONTA, COLABORAR COM OUTRAS PESSOAS, EM ÂMBITO GLOBAL?
PESSOAS DE TODOS OS CANTOS DO MUNDO ESTÃO ADQUIRINDO PODER; A GLOBALIZAÇÃO 3.0 (À PARTIR DO ANO 2000) POSSIBILITA A UM NÚMERO CADA VEZ MAIOR DE PESSOAS SE CONECTAREM NUM PISCAR DE OLHOS, E VEREMOS TODAS AS FACETAS DA DIVERSIDADE HUMANA ENTRANDO NA RODA.
AS PROFISSÕES ESTÃO ATRAVESSANDO UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO. AQUELES QUE SE AFERRAREM AO PASSADO E RESISTIREM ÀS MUDANÇAS VÃO SE AFUNDAR NA MASSIFICAÇÃO, POR OUTRO LADO, OS QUE SE MOSTRAREM APTOS A AGREGAR VALOR – MEDIANTE A SUA LIDERANÇA, OS SEUS RELACIONAMENTOS E SUA CRIATIVIDADE – NÃO SÓ TRANFORMARÃO O SETOR COMO VÃO FORTALECER SEU RELACIONAMENTOS COM CLIENTES. SEJA QUAL FOR SUA PROFISSÃO, É MELHOR TRATAR DE SE DEDICAR À COISA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS COM AMOR, PORQUE TUDO O QUE PODE SER DIGITALIZADO TAMBÉM PODE SER TERCERIZADO PARA ALGUÉM MAIS ESPERTO OU MAIS BARATO, OU AS DUAS COISAS.
CADA UM TEM DE CONCENTRAR EXATAMENTE NAQUILO EM QUE AGREGA VALOR.


Você 3.0
Bem-vindo à nova era da globalização: primeiro empresas. Agora é a sua vez.
texto Simon Kuper
coordenação Adriano Sambugaro, Carlo Giovani e Sérgio Gwercman
Eu sou inglês, ou pelo menos é isso que diz meu passaporte. Outro dia, sentei na minha casa em Paris para escrever uma reportagem encomendada por um jornal argentino que eu havia apurado em Miami. Dei os últimos retoques no texto dentro de um trem que atravessava a Bélgica. Ao chegar à estação central de Amsterdã, meu destino final, conectei o notebook à rede de internet sem fio e, sentado num cantinho, ao lado da minha esposa americana, enviei o artigo por e-mail para Buenos Aires. Me senti o perfeito trabalhador globalizado. Como diria o colunista do The New York Times Thomas Friedman em seu livro O Mundo É Plano, eu era uma minimultinacional trabalhando no meu escritório virtual global.
O Mundo está entre as obras mais importantes para entender esse novo fenômeno. O livro explica por que pessoas como eu são o seu futuro. Já está claro que, na sua e na minha carreira, a maior parte do dinheiro virá dos trabalhos globais. Agora só nos resta desvendar um detalhe - nada irrelevante, aliás: quem terá a chance de se tornar global e quem será atropelado pelo processo, sendo deixado para trás na corrida da globalização.
Nova globalização
Mas como foi que chegamos a este estágio? Afinal, globalização (essa palavra horrível) costuma ser usada para se referir a empresas ou produtos. Pois Friedman decretou que essa globalização caducou. A coisa funciona assim: em 1492, Colombo pegou seu barco e mostrou que o mundo ia bem além da Europa. Começava a globalização 1.0,com as nações percebendo que poderiam fazer negócios no mundo todo. O marco seguinte veio por volta de 1800, com a Revolução Industrial, que forçou as empresas a se multinacionalizar em busca de novos mercados para vender seus produtos - e mão-de-obra barata para fabricá-los.
Era a globalização 2.0. A era que estamos vivendo, a globalização 3.0, "é sobre indivíduos se globalizando". As raízes desse fenômeno estão fincadas em uma variedade de tecnologias que, por volta do ano 2000, começaram a ficar disponíveis ao grande público (o preço ficou acessível, para ser mais claro). Vamos a elas: conexões à internet estão cada vez mais velozes. Os computadores, baratos. Softwares sofisticadíssimos ficaram tão simples que podem ser usados por semi-analfabetos tecnológicos. E o Google mostrou-se capaz de colocar pessoas sentadas na sala de casa em contato com boa parte da informação mundial. Por fim o número de usuários da internet teve um crescimento exponencial.
O resultado disso tudo é que quando se afirma que o mundo é plano não estamos falando na possibilidade de ficar de papo com qualquer pessoa no planeta através do computador de casa. É muito mais do que isso. Mundo plano quer dizer que após a queda do Muro de Berlim, a abertura dos mercados da Índia e da China e a redução dos impostos alfandegários, podemos muito mais do que conversar com todos: agora podemos nos conectar a qualquer habitante do planeta (desde que ele não viva nas ditaduras da Coréia do Norte ou de Mianmar, é claro).

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Uma breve história global
Os imigrantes que deixaram Nápoles rumo a São Paulo na virada do século 20 estavam trocando um planeta por outro. Havia muito pouco em comum entre esses dois lugares. A comida era diferente, a música era outra e os hábitos sociais não se pareciam em quase nada. Hoje, com o ciberespaço, eles poderiam ter conseguido um emprego em outro país sem ter de abandonar a macarronada.
Gerentes industriais e editores de revista contratam profissionais como eu, que eles nunca viram pela frente, e que trabalham sentados numa cadeira do outro lado do mundo. A Índia é hoje um dos principais pólos desse tipo de serviço. Friedman encontrou lá contadores cuidando, via internet, do Imposto de Renda de clientes americanos. Viu nerds programando jogos de computador para desenvolvedores na Califórnia. Atendentes de call center em Nova Délhi recebendo telefonemas feitos para o serviço de atendimento de empresas americanas. Achou raios X tirados na madrugada dos EUA sendo examinados em tempo real por médicos na Austrália, onde já era dia. Ao ler O Mundo, até eu pensei em importar da Índia umas pesquisas jornalísticas!

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Terrorismo: outro fenômeno globalizado
Nem sempre, porém, a nova realidade é uma maravilha. Talvez o melhor exemplo da nova logística global seja a rede terrorista Al Qaeda. Os ataques de 11/9 foram detonados nos EUA por um time de sauditas comandados por um egípcio educado na Alemanha e guiado por um chefe na zona rural do Afeganistão. As teorias conspiratórias que incluem os governos israelenses e americanos na trama costumam se esquecer o quão fácil se tornou para uma pessoa comum realizar um trabalho global altamente sofisticado - Mohammed Atta, chefe dos seqüestradores, comprou sua passagem no AA.com, site da American Airlines. Simples assim. Ou então pegue a rede global de jornalistas e designers que criou esta reportagem. A idéia original - exemplificar na realização da matéria o fenômeno de que estamos tratando - partiu da redação da revista, em São Paulo.
Por e-mail, fui convidado a escrevê-la aqui de Paris. Enquanto isso, o diretor de arte da Super fuçava sites especializados em busca de ilustradores. Os colaboradores escolhidos eram gente de que ele nunca ouvira falar, espalhados pelo Brasil, Canadá, Espanha e Rússia. Tudo parece muito elaborado, mas na prática o processo inteiro custou a mesma coisa e foi praticamente idêntico ao de qualquer outra reportagem da Super - a única diferença foi que precisamos nos comunicar por Skype ou Messenger em vez de fazer uma reunião ao vivo.

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Como participar?
Agora vem a má notícia. A globalização não é uma festa para a qual todos estão convidados - esse é o drama de toda boa festa, aliás. Mesmo que a hostess da porta seja bonitinha, ela decide quem entra e quem não entra com a mesma crueldade de um leão-de-chácara. O que fazer para conseguir um convite?
Aí vai o caminho das pedras. Para ser um trabalhador global, você precisa de duas ferramentas: um computador com internet e domar o inglês. Quando combinados, esses dois requisitos excluem mais de 90% da população do planeta. É um equívoco, portanto, acreditar que não há barreiras para a globalização 3.0. A maioria não tem essas ferramentas básicas.
Veja o caso do Brasil: numa população de 189 milhões de pessoas, cerca de 30 milhões têm acesso à internet. Globalmente estima-se em 694 milhões os maiores de 15 anos que acessam a rede - apenas 14% de toda a população mundial nessa faixa etária. Não pense, porém, que o fato de você fazer parte desses 14% de privilegiados lhe garante uma vaga no mercado de trabalho global. Você precisará se virar na hora de falar inglês, porque colaboradores têm de se comunicar e o inglês é a língua escolhida para essa tarefa.

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Do you speak english?
Quando um chinês conversa com um francês, ainda que de forma rudimentar, eles usam o inglês. Inglês é, também, a língua que eu usei para me comunicar com a Super. Se meu texto tivesse de ser traduzido do alemão ou do cantonês, isso significaria um acréscimo de tempo e de custo. Da mesma maneira, O Mundo É Plano teria muito menos chance de atrair a atenção de uma editora brasileira se tivesse sido escrito originalmente em sueco.
Como no acesso à internet, a exigência de usar o inglês elimina da concorrência parcelas enormes do planeta. A revista The Economist apresentou (em inglês, é claro) os seguintes números sobre essa questão: apenas cerca de 25% da população mundial ao menos arranha o inglês.
Muitos outros estão tentando tirar o atraso. Tenho um amigo que viajou para a China para ensinar inglês. Ele dava aulas matinais em parques públicos que atraíam milhares de pessoas dispostas a pagar por elas. Paris há um século era a capital da língua global da elite, o francês. Hoje, as crianças parisienses começam a aprender inglês no jardim-de-infância. David Graddol, do Conselho Britânico, o braço cultural global do governo britânico, afirma que "em uma década, cerca de um terço da população mundial estará tentando aprender a falar inglês".
Por hora, quem não sabe falar inglês está fora do jogo - uma péssima notícia para o Brasil. Em minhas visitas ao país, nos anos 90, encontrei um país monolíngüe. Falar inglês não me levava a lugar nenhum.É claro que também o Brasil está se globalizando. Mas até a localização do país atrapalha a jornada dos que tentam se tornar trabalhadores globais. Para quem tem essa idéia na cabeça, o melhor lugar para estar não é Bangalore, capital tecnológica da Índia, que Friedman tanto admira.
Nem a multinacional, multicultural e multidinâmica Toronto, no Canadá, escolhida por Pico Iyer em seu excelente livro The Global Soul ("A Alma Global", sem versão em português). Sem dúvida, não há lugar mais apropriado que um pequeno triângulo num continente freqüentemente acusado de estar se tornando asilo de luxo para sua população envelhecida: a região noroeste da Europa, centrada em Londres, Paris e Bruxelas. Essa área é um laboratório de observação do futuro do trabalho globalizado.

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Para saber mais
Mundo é Plano
Thomas Friedman, Objetiva, 2006.
The Global Soul
Pico Iyer, Bloomsbury Publishing, EUA, 2001.
O melhor do mundo será de graça, diz Chris Anderson
O criador da Teoria da Cauda Longa e editor da revista americana Wired fala à SUPER sobre o futuro da internet, o punk e o que move as pessoas
Por Pedro Burgos

Chris Anderson não é economista, mas nunca achou que as teorias econômicas explicassem o mundo em que vivemos hoje. Pirataria é ruim? A mídia de massa ainda dita quem vai ser sucesso? Editor-chefe da revista Wired e autor do livro A Cauda Longa, Chris Anderson prepara um nova obra, desta vez sobre a economia do gratuito.

Para ele, não é só o dinheiro que move as pessoas mas também a vontade de reconhecimento e o sentimento comunitário. Em rápida passagem por São Paulo para dar uma palestra e estudar o fenômeno de Tropa de Elite e da música tecnobrega – fenômeno do Pará em que as músicas são feitas coletivamente –, Chris, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista Time, falou à Super.

A Teoria da Cauda Longa fala de sucessos com públicos pequenos e variados. Isso não existia antes?
Antes da internet, era muito mais difícil aparecer na mídia de massa. Era ela ou quase nada. Hoje, a internet agrega várias subculturas, o que é ótimo para gente como eu, que nunca fiquei satisfeito com a cultura do tamanho único para todos. Eu não via TV, não gostava do rádio, não gostava das minhas opções, e não havia a internet lá atrás. A única opção era algo mais “roots”, uma subcultura de rua. Para mim era a subcultura do punk-rock, para outros era a do hip-hop, ou dos hackers ou das drogas.

Então a internet favoreceu a vida dos artistas underground, que não esperam um grande público?
Tudo que você vê hoje na internet é um eco do espírito original do punk. Tem muito da filosofia do faça você mesmo, antiestabilishment, antigravadoras, traços que ganharam força com a produção digital. Em muitos sentidos, a Teoria da Cauda Longa é influenciada pela minha experiência como jovem dos anos 80. Eu não fui à universidade até ter 27 anos. Era um cara que largou o ensino médio e depois largou a faculdade. Gastei os meus vinte e poucos anos tocando em bandas de punk-rock. Naquela época, era possível fazer seus próprios discos em fabriquetas, com tiragem de 200 ou 300 cópias. Era possível fazer a própria distribuição, mandar por correio ou levar para vender em lojas menores. Dava pra tocar até nas garagens, ensaiar lá, comprar guitarras usadas. A internet vem dessa cultura de garagem e a fortaleceu.

Quando eu era criança, nos anos 80, podia conversar com a minha mãe sobre Michael Jackson ou novelas. Hoje não há como eu falar com ela sobre Heroes ou Halo 3. Você não acha que a cultura de massa tem um lado bom de unir as pessoas? Sim, é verdade. Há prós e contras. Estamos nos fragmentando como cultura. Há bem menos chances de as pessoas terem denominadores culturais comuns do que anos atrás. É o que acontece quando as pessoas têm mais escolhas. Perdemos as ligações culturais superficiais, como a televisão. Mas, em compensação, ganhamos conexões mais profundas. Eu e você provavelmente não ouvimos o mesmo tipo de música, nem os mesmos programas de TV. Mas vamos supor que estamos conversando e percebemos que ambos gostamos de... Lego. Os robôs do Lego. Então estabelecemos uma conexão que mais ninguém nesta sala tem, uma conexão bem mais interessante que a de um programa de TV como Lost, que todos assistem.

A mídia tem o poder de decidir o que é moda?
Ainda tem. Eu e você escrevemos para grandes revistas e temos muitos leitores. Mas os indivíduos têm cada vez mais força, como nos blogs ou nos grupos de discussão. Tenho mais influência no blog do que na Wired. É claro que a revista é grande: atinge 8 milhões de leitores e eu não chego a tantas pessoas no blog. Mas a minha influência individual é maior lá. Na revista, é meio difusa. Eu tenho um contato muito mais direto com os meus 50 mil leitores do blog.

O seu último livro demorou mais para ser escrito por causa do blog?
Sim. Para mim, o blog serve como uma versão beta das idéias. Você não usa um software que não passou por diversos testes, não lê um artigo científico que não tenha sido examinado pelos pares. Por que seria diferente com um livro? Eu o testo no meu blog, lanço as idéias e as pessoas comentam e trazem coisas novas. Demora mais, mas faz com que o livro seja melhor. Quero escrever um monte de coisas que não entrarão no livro só para explorar melhor o argumento.

Mas dá para confiar nos blogs?
Muita gente acha difícil confiar no que está escrito na internet. Mas basta entender que a Wikipedia é a melhor coisa que aconteceu nos últimos 10 anos para acreditar que há muita coisa confiável por lá. O número de pessoas que têm conhecimento, que querem se expressar e sabem como fazer isso é muito maior que o de escritores ou jornalistas profissionais. A qualidade do produto vai aumentar com a expansão da gama de colaboradores, como acontece na Wikipedia.

Costuma-se dizer que as pessoas hoje estão mais egoístas, mas então como explicar a disposição para participar de idéias coletivas, como a Wikipedia?
É a economia do gratuito, tema do meu próximo livro. Está cada vez mais claro que é um erro acreditar que o dinheiro decide tudo. Sim, as pessoas ainda são guiadas pelo interesse próprio, mas não quer dizer que ele seja monetário. Pode ser por reputação, atenção, expressão, respeito, sentido de comunidade. Há vários motivos para as pessoas se expressarem e contribuírem. Não sabíamos o quão abrangentes e interessantes esses incentivos eram porque não tínhamos dado essas ferramentas antes aos usuários. Se alguém dissesse há 10 anos que as pessoas que escrevem e publicam na internet fariam isso de graça, ninguém acreditaria.

O seu próximo livro [provisoriamente intitulado Free, “livre”, em inglês] será gratuito?
Gratuito para download, e outros formatos digitais, mas cobrarei pelo livro físico. O download é gratuito porque o custo é zero. E o preço segue o custo.

Há uma onda de obras sobre tendências, como O Ponto de Desequilíbrio, O Mundo é Plano e Freakonomics. Seus livros se encaixam nessa onda?
Sim. São livros sempre escritos por jornalistas que não são da área de economia. Acho que economia de cultura pop é um tópico interessante e em alta hoje em dia. É uma interseção de vários assuntos legais, é a ciência das nossas vidas.

No próximo livro, você diz que o desafio é dar um produto de graça que renda dinheiro com as coisas em volta. Como isso se explicaria na prática?
O dinheiro vem com os serviços Premium. A maioria das pessoas usa Skype de graça. Há 80 milhões de usuários, mas apenas algumas centenas de milhares pagam pelo Premium, que dá mais benefícios.
A economia do gratuito pode deixar o meio digital e chegar ao meio físico?
Sim. Nos EUA, é muito comum ter um celular de graça. Se você fizer um plano de fidelidade de dois anos, tem um celular grátis. A idéia pode se estender até mesmo para carros gratuitos. O modelo antigo era que o carro era caro e o combustível barato. Agora o combustível está ficando muito caro e, comparativamente, o carro é barato. Nos EUA, já existe uma empresa que dá o carro de graça e cobra pela exclusividade do combustível. Da mesma forma, a pirataria pode ser uma forma efetiva de marketing. O filme Tropa de Elite, aqui do Brasil, foi largamente pirateado e ainda assim virou um sucesso de bilheteria. Os vendedores de rua têm mais impacto e influenciam mais o consumidor que a publicidade tradicional.

Os cineastas brasileiros reclamam que não há canais de distribuição suficientes. Mas não querem ter seus filmes pirateados.
Todo cineasta do mundo reclama disso. Como resolver? Esqueça o cinema, vá de dvd. Distribuição na rua é bom se você não espera ganhar dinheiro com a venda. Os cineastas brasileiros têm os filmes subsidiados pelo governo, por isso não precisam ganhar dinheiro. Eles fazem o filme pela reputação, pelo impacto no público. Por isso têm mais é que deixar o mercado decidir. Se as pessoas não querem pagar pelo produto, ok, arranjamos outra maneira de ganhar dinheiro. Afinal, estamos aqui para isso, certo?


Entenda a Teoria da Cauda Longa

Já ouviu falar da banda Superchunk? Não? E da Soho Dolls? Não tem problema. No mundo de hoje, o megassucesso, aquele hit que a rádio tocava sem parar e todo mundo sabia de cor, dá lugar a bandas com um público fiel e pequeno, uma cauda longa dividida em vários e pequenos hits.

Talvez você nem se lembre, mas há alguns anos a única opção para conseguir novas músicas, filmes e livros era ir às lojas. E o gráfico de vendas de uma loja tradicional tinha uma “cabeça grande” (poucos produtos representavam boa parte do lucro) e uma “cauda curta” (como não havia muitas opções, os menos populares vendiam pouco).

Estudando os dados de lojas virtuais como a Amazon.com ou serviços como o iTunes, Chris Anderson concluiu que, quando têm opções, as pessoas gostam de procurar alternativas aos hits, seja em música, seja em tipos de cerveja. Como na internet o “espaço de prateleira” é quase infinito, ao contrário das lojas físicas, uma variedade muito maior de produtos foi disponibilizada para atender à demanda.

Em uma economia assim, onde os produtos de nicho são cada vez mais importantes, o gráfico de vendas tem uma cauda mais longa. É lá que estão as bandas obscuras com fãs ardorosos e seus fotologs.


Quem é Chris Anderson:
Ele tem 46 anos, é casado e tem 4 filhos. Mora em Berkeley, Califórnia.

Seu tataravô, Jo Labadie, foi o fundador do movimento anarquista nos
EUA no século 19.

Tinha uma banda chamada REM. Quando uma rádio descobriu que havia outra com o mesmo nome (hoje, famosa), ele organizou um duelo. Foi o último show de sua banda.

Adora o game Guitar Hero e emprestou a voz para o jogo Halo 3.

Apesar de ser jornalista com passagens pelas revistas The Economist e Nature, é formado em física.

Seu atual hobby é construir aviões de controle remoto. “Ainda não fui preso por isso”, diz.